Friday, June 02, 2006

Maníaco-depressivo

Encontros e desencontros, mas eu prefiro
Assim, esse rosto desfigurado e triste.
Posso me alegrar, porém me firo
E onde não há tristeza penso que existe.

Por que sou maníaco-depressivo,
Escrevendo versos nos muros e no chão
Versos de morte, porque não vivo,
Vive a tristeza do meu coração.

Vês esse rio que corre em mansidão;
O colibri que executa suas sonatas
Ao raiar do dia? Que imenso clarão

Surpreende os tambaquis nas cascatas.
A felicidade existe revela-me a Razão!
A tristeza só é bela para as serenatas.

Aracati-Ce., 02 de junho de 2006.

André.

Um Simplório Contundente

I

A chuva é intermitente, angulosa e o guarda-chuva teimoso. O terno novo, ainda com cheiro de naftalina do armário começa a ser salpicado por microgotículas de lama( - Diabos, nunca urbanizarão essas ruas! Esses governantes só pensam em roubar! Roubar!), da qual tenta , em vão, livrar-se. Tenta proteger o livro ( qual Moisés com aquelas ridículas tábuas, caminhando com extrema prudência entre as escarpas do Monte Sinai), a chuva é com vento e é o seu livro predileto, de versos ( - ...Um exemplar destes, nem nos maiores sebos da capital eu encontro mais e esta peste desta chuva!...). Encosta-se a uma marquise, onde outros fugitivos do aguaceiro também tentam se abrigar.
- Acho que o presidente não se reelege... É ladrão demais ao redor dele! - comentou um homem queimado do sol, barba por fazer, ensopado até a medula, trajando um uniforme.
- Isso sempre existiu..., a diferença é que nunca foi revelado...
- Nunca foi revelado ou os roubos da atual equipe administrativa são grosseiros demais que até a polícia brasileira, provinciana como é, consegue descobrir. - insistiu o homem do uniforme deitando um olhar feroz para o seu interlocutor, sem que este percebesse.
- O homem tá aí com vários projetos funcionando, botando a economia nos eixos, melhorando o custo de vida... aí, só porque está mal acessorado querem bombardear o homem! - disse um senhor de bigode cheio, exaltado como só os de bigode cheio, gesticulando e andando de um lado para o outro dada marquise, fumando um c igarro fedorentíssimo!
Começa a tirar respingos de lama do paletó, indiferente ao destino da nação que tão "sabiamente", é discutido, por aqueles dois cientistas políticos.
Dois garotos que acabam de descer de um coletivo, com mochilas nas costas, correm e tomam abrigo, também, na marquise, esbarrando no homem de paletó, que viu todo o seu trabalho de limpeza ruir completamente.
- Vocês nunca tomam jeito! - não suportou o do bigode cheio que nem, sequer, conhecia os dois púberes.
- O senhor não nos pode julgar porque se encontra absorvido pelos tentáculos morais e toda Moral é falsa, superficial e fictícia - ripostou o mais velho dois adolescentes, que já tinha uma penugem no buço.
O homem do bigode, dado olimite do seu cosmo sapiencial, pouca coisa entendeu da asserção do garoto, porém compreendeu, como só os velhos compreendem, mesmo quando não entendem patavina nenhuma, que tratasse do que se tratasse, aquilas palavras destilavam um atrevimento descabido, ainda mais com o beneplácito com o qual foram pronunciadas e com aquela imparcialidade incomum para um peralta.
- E que sabe o senhor de Moral? - inquiriu, ironicamente, o homem do bigode, aproximando-se do garoto e secando-lhe com o olhar.
Neste ínterim o outro coleguinha, cutucou com o cotovelo o braço do garoto atrevido, como se prevesse uma grande tempestade pela frente e chamasse a atenção do capitão para uma nuvem ainda não vista.
- Entendo o que o senhor e nem ninguém entende - respondeu o garoto com uma segurança crística, fitando o velho.
- Toda a atual Moral - prosseguiu o pequeno filósofo - nisto incla-se a Ética, a Sociologia, as Leis, etc. não passam de um artifício para manter-nos quietinhos e sossegados, conformados enquanto os "nobres" aristocratas desfilam em seus carros fechados, levando suas amantes para os mais luxuosos hotéis da cidade. Esta coisa que estupidamente batizaram de Moral faz com que dois idiotas - nisto os olhos dos dois homens voltaram-se para o garoto, injetados de sangue - discutam política aqui embaixo de uma marquise, quando deviam fazê-lo, por direito, lá no plenário, onde os ódios são mais requintados, são colocados com termos jurídicos e éticos, como represas, para conter a torrente de fogo que corre, rugindo na escuridão dos espíritos humanos!... - o menino respirou e como se estivesse num palco caminhou cadenciadamente, a fronte baixa, o olhar para no chão. Depois olhou para cima, qual Ivã Karamássovi, no momento do seu depoimento, no tribunal, quando foi tomado de uma alucinação, prosseguiu : - Eu
sustento que erro está no fato de só nos terem ensinado a amar, quando se sabe que ninguém! ninguém é capaz de amar incondicionalmente. A humanidade caiu como um patinho na armadilha dos grandes mestres que pregavam o amor universal quando, na verdade eles mesmos, jamais amaram incodicionalmente, pelo contrário, sutilmente, enquanto ensinavam o amor universal íaqm inoculando o ódio, que verdadeiramante é o cimento que sustenta todo edifíicio Moral, Social ou Religioso, o ódio pelo outro que era diferente, pelo outro que saboriava-se com a maçã do paraíso pois sabia que até Deus teve que mentir para autosustentar-se, ódio pelo subversivo que exigia, a qualquer custo uma explicação pragmática, para ele, de ora para outra, tornar-se um cordeirinho. Foi aí que nasceu o maior e mais devastador monumento concebido pelo homem: a Religião. O homem criou um deus para abrigar as qualidades que ele tanto apregoava, pois sabia que ser humano algum podia conter aquelas características e daí por diante, desde o soerguimento da Porta de Sthar na Babilônia à destruição da Torres Gêmeas americanas a humanidade vêm transferindo para deus atributos que ela mesma imagina e depois obriga os fracos, como vocês, a seguir estes atributos.
Repentinamente o mancebo cala-se como se sua fala fosse fruto de um mecanismo, como aqueles brinquedos à corda. Funga, anda de um lado para outro, o olhar vago, busca, perscruta nos postes, nas nuvens, nos próprios rostos das demais pessoas algo que se percebe, nitidamente, falta ser dito para completar seu discurso. Depois estalando os dedos perto do ouvido direito, retoma sua postura inicial:
- Eu finco, aqui a pedra de uma teologia, de uma teologia que realmente emana do homem: a Teologia da Distinção, ou, trocando em miúdos, a teologia do individualismo, do ódio mesmo! Sejamos racionais, não podemos nos amar incondicionalmente, nenhum sistema filosófico ou religioso teria sobrevivido às intempéries do tempo se não fosse o antagonismo recôndito pelo outro sistema opositor. Eu arranco a máscara da Igreja Católica e rasgo as túnicas de Sidarta, viva o individualismo, aquele individualismo que aquilata cada cidadão pelo seu real valor, seu valor útil, acima das Morais e das Religiões que vivem criando vácuos entre um cidadão e outro, por quere-los obrigar a serem o que não são!
Os ouvintes da marquise estavam petrificados. O homem do paletó então, abestalhado diante de tanta coragem e tanta desenvoltura. Questionava como podia aquele colegial ser tão seguro, tão cadenciado, tão tenaz! O livro de versos chegou a cai-lhe das mãos por um instante. O pequeno pregador caminha em direção do volume e o apanha. Acaracia-lhe a capa, olha para os céus(o tempo já amainara), pigarreia e entoa(sem sequer abrir o livro):

Ó tu, o Anjo mais belo e o mais sábio Senhor,
Deus que a sorte traiu e privou do louvor,

Tem piedade, Satã, desta longa miséria!...

E recita todas “As Litanias de Satã” de Baudelaire. O homem do paletó não contém a comoção chegando a agachar-se, de mão no queixo, em frente ao garoto que gesticula shakespearianamente!
O homem do bigode escandaliza-se diante dos versos e tenta investir contra o menino, mas seu braço é contido pelo pulso forte do homem do uniforme.
Um coletivo para em frente à praça que fica de frente para a marquise. O adolescente dirije-se ao homem do paletó e entrega-lhe o volume, fazendo uma grande reverência, não ao homem, mas ao livro. Despede-se:
- A paz dos homens esteja convosco!
- Espere! – disse o homem do paletó, segurando o braço do garoto. – diga-nos, ao menos, seu nome!
- Nômed. Oinômed – ripostou o mancebo desvencilhando-se e correndo com o coleguinha rumo ao ônibus.
O homem do paletó abre o livro.
Os dois contendores olharam de soslaio.
Desprezo de iletrados pela cultura. Abrir um volume em local público, ainda mais, em tais circunstâncias, é sucitar os mais escondidos preconceitos. Versos retumbantes o transportam à Escandinávia, onde uma valquíria o dava de beber numa copiosa fonte.
O homem do uniforme recompõe-se do espetáculo do garoto e prossegue na sua querela:
- Será possível, rapaz, que ninguém ficou imune à corrupção ao redor desse presidente. Ninguém prestava dessa equipe administrativa! Ministros, acessores, amigos, funcionários do primeiro escalão!...
- Ora, ora, quem é que pode responder pelo que os outros fazem! Você pode está sendo corno neste momento e no entanto, o que pode você fazer para impedir isso! Olhe para a História da Humanidade, os traidores sempre foram os mais chegados – rematou o velho, baforando, em cheio no rosto do se adversário, adquirindo, sem perceber, os gestos e a filosofia do garoto que acabara de sair e que quase foi sua vítima.
O coletivo do velho chega e por coincidência também é a condução do homem do paletó. Os dois partem deixando o uniformizado furioso por não ter tido tempo de dar uma boa resposta àquele velho atrevido.
Sozinho na marquise o homem do uniforme põe-se a pensar no garoto do discurso. Depois de quinze minutos de reflexão chega à conclusão que aquele rostinho era, nada mais, nada menos, que o próprio Satã que os tinha vindo tentar, pensando que o homem do paletó fosse um pastor e que aquele livro preto fosse uma bíblia, posto que o Diabo também podia se enganar, visto que Deus havia mentido para auto-sustentar-se, conforme disssera o pequeno filósofo. Repentinamente começa a persignar-se, pedindo perdão a Deus por tal blasfêmia.
- Vai!...vai! Agora! – disse Arcádio, sacolejando seu colega dentro do coletivo.
O homem do paletó toma assento de forma a perder não de vista Arcádio. Sente-se estranhamente magnetizado pelo garoto tal Mateus, o publicano, enquanto ouvia Cristo falar, no banquete. Uma transformação interior ocorre-lhe, como o espocar de uma champanha, ansiosamente aguardada, como o ato de ejacular. Todas as suas certezas metafísicas, desde então, pareciam que precisavam do aval daquele menino para serem sólidas e incontestáveis; do contrário, bastaria o garoto negá-las, com aquela sua voz veemente, para que todas elas desaparecessem, instantaneamente, do seu espírito.
O velho do bigode cheio estava de pé no corredor do ônibus e de vez em quando lançava um olhar fulminante para os dois garotos, que se encontravam, também de pé, no ponto médio, entre o velho e o homem do paletó.
- A Moral do amor universal é a moral perfeita e insubstituível! – começou o amigo de Arcádio esticando o braço em direção a todos que estavam no coletivo, mas principalmente ao velho do bigode cheio. – A deturpação das idéias humanitárias, que foram colhidas levianamente por espertas víboras que as codificaram e fizeram delas um meio de negócio, não é motivo para acusar os grandes mestres de charlatões. Os incêndios criminosos de volumes da Bíblia pelos camponeses alemães, durante a Reforma, não conseguiram apagar a chama do cristianismo; a perseguição dos chineses ao Tibet, não diminui a sabedoria, nem o valor dos sábios tibetanos. Porém o que se tem visto até agora é uma utopia dos reais ideais ancestrais e ocaso mais clássico é o do Cristianismo que atualmente apresenta-se maquiado na Igreja Católica, falsete inopinado de uma sublime filosofia. Enquanto houver mundo o homem, em noites escuras de solidão e desalento, abrirá sua janela e contemplará o céu estrelado e dirá para si mesmo: “Somente um deus magnífico pode ter criado tudo isso!”. O homem não está só; ele não é um filho do acaso, nós não estamos aqui fatalmente! Cada fio de cabelo das nossas cabeças já estão contados, disse o Mestre e o disse porque Ele era Deus... – interrompeu-se, já sem fôlego, o garoto que se viu rodeado de espectadores espantados, tão petrificados que o ônibus parara no ponto há dez minutos e as pessoas que esperavam pelo transporte já se perguntavam o que acontecera. Desembaraça-se da multidão e desceu lentamente os degraus do ônibus diante dos olhos esbugalhados das pessoas.
O homem do paletó procurou o do bigode cheio e saíram juntos do coletivo, comentando, mais extasiados ainda, o acontecido. No final da rua separam-se, seguindo seus destinos.

II

- Tudo isso diante das pessoas, sem nem pestanejar? – perguntou, com a colher de sopa suspensa no ar, a mulher do velho do bigode.
- Foooi! E enquanto tu preparava o jantar eu tive ali consultando aquele Novo Testamento velho que tu vive lendo e pela descrição do satanás ali contida aquele menino é o próprio Cão! – afirmou o outro, enxugando o bigode – falar daquele jeito, com aquela audácia, só sendo o Satanás em pessoa e com aquela sabedoria! De onde tiraria ele tanto conhecimento se não fosse o Diabo, o tempo todo, sussurrando-lhe aquelas palavras no ouvido?! – Concluiu.
- Quando acabar você vivia zombando deu e das vizinhas, nas épocas das novenas do mês de maio, quando a gente rezava para afastar o inimigo! – vergastou a mulher, já de pé, recolhendo a bacia e a colher do homem.
O homem ergue-se pensativo, foi a pia, lavou a boca, enxugou-a, ficou de pé na porta da cozinha, olhando as estrelas, surpreso e ao mesmo tempo triste por de dar, pela primeira vez em 27 anos de casado, razão à beata da sua mulher. “O demônio existe, o demônio existe...” sub-repticiamente dizia-lhe a alma, apaziguada, como a alma de um matemático que depois de anos de dúvidas ferinas conseguisse equacionar um axioma. Daquele dia em diante sempre à hora de recolher-se orava fervorosamente com a mulher e de tal modo dormia abraçado a ela que, em altas horas, era preciso forçar-lhe o braço para que não lhe apertasse tanto as costelas.
O homem do paletó chega arfante e acende o abajur da escrivaninha e senta-se apressado diante do computador. Consulta todos os seus documentos salvos sobre teologia e começa a duvidar das próprias certezas. Não consegue entender aquela maravilha, vista hoje de manhã. Cético desde a adolescência se via agora diante de uma rua escura do pensamento, sem nenhum archote na mão. “Aquilo só pode ter sido um milagre! É impossível que aqueles pelintras tivessem, em suas próprias cabeças, tanta sabedoria! E o brilho dos olhos deles! Seria uma manifestação divina para disssuadir-me do ateísmo? Mas Deus é somente uma idéia, algo trabalhado e burilado, tão perfeitamente, que à primeira vista, não apresenta nenhum defeito como a Aritmética, porém, quando se mergulha no âmago da coisa, vêem-se os truques, as diáfanas sutilezas...”. e caminhava de um lado para o outro, coçando a cabeça, ensimesmado, com a paz e as certezas perdidas para sempre, por causa daqueles malditos meninos!
Acorda cedo todos os dias, agora e antes de ir trabalhar caminha pelo parque da cidade embevecido pelo canto dos pássaros e alguns colegas até já o flagraram recitando “O Sapo” de Victor Hugo no átrio de uma igreja.
- Que chuva terrível, meu Deus! – disse, desabotoando o uniforme ensopado. – onde está o diabo desta tomada. – concluiu impacientando-se na noite escura.
Depois do telejornal acende um cigarro e congratula-se interiormente por ser o único capaz de explicar o fenômeno daqueles dois garotos. Era neófito ainda no grupo de estudos espíritas, mas, como toda alma manipulada por ideologia, cedo encontrou um arranjo nos escritos de Kardec para liquidar com a questão. Pensa até escrever um pequeno artigo com suas explanações e enviá-lo à Revista Espírita que assina.

III

- Sued! Sued! Vem cá! – chama Oinômed debaixo do castanheiro do quintal, no dia seguinte. Circulando de um lado para o outro com uma prancheta contendo várias folhas escritas e falando só.
- Estava aqui conferindo minha fala e não esqueci de quase nada! – afirmou o que estava com a prancheta das folhas. – exceto esse trecho: e leu em voz alta e cadenciada:
- Na verdade sustento ainda que o que diferencia um ser humano do outro, na verdade, é o desprezo de um pelo outro. Cada ser humano é um buraco negro fechado em si mesmo, o qual não sabemos onde vai dar. Andemos, nos cumprimentemos pelas ruas, pelas ruas, ergamos os chapéus para os chapéus ligeiramente para alguma proeza singular que, vez por outra acontece, mas não nos furtemos ao direito de difamar e desprezar o próximo no nosso foro íntimo, no silêncio das nossas alcovas, afinal o que é a liberdade? Chega de por sutis véus nessa deusa desbocada e sensual que a Liberdade! livre! Livre! É o que somos e nossa iniciativa deve ser sem fronteiras! O que quero é recomeçar. Recomeçar da pré-história das nossas e construir uma nova civilização sobre os escombros desta!
- Já está na hora de começarmos a usar novamente nossos nomes próprios, não estamos encenando agora. – disse Sued, que não é Sued senão Melquíades.
- Mas usando os nomes das personagens mais ficará entranhado em nossas mentes o miolo da peça, sabe? – replicou o falso Oinômed e verdadeiro Arcádio. – Agora vamos comer alguma coisa que precisamos sair para ensaiar o restante do texto.

André


Aracati-Ce., 27 de abril de 2006.

Delírio de um anarquista


Que fazer com esse queimor que me oprime o peito?
Como fugir dessas dúvidas varejeiras?
Que sinto quando me encontro no leito,
No frio das horas derradeiras?

Um ícone sobre o criado mudo,
Um trecho de música ouvida,
A pensar me leva tudo
Que encontro nesta vida.

A arte da impassibilidade Juno
Não ma ensinou.
Tenho as sensibilidades de Netuno;
Os ímpetos de Rimbaud!

Ah, mas as mãos da filosofia,
Tal qual a Boécio, hão de me consolar
Dessa intelectual nostalgia:
A arte de pensar.


Aracati-Ce, 24 de novembro de 2005.

André da Costa Nogueira


Homenagem Póstuma

Para aqueles que perderam a capacidade
De se impressionar com o mundo;
Com seu significado profundo,
A morte é uma doce realidade

Para os que já não param para ver
O pôr-do-sol da sua sacada
Esta longa vida estagnada
Nada mais pode oferecer.

É triste constatar que sou um
Desses viajantes já casados
Dessa existência fútil.

Eu, justo eu, com meus vinte anos,
Com meus sonhos irrealizados!
Acho esta vida inútil!


Aracati-Ce., 01 de junho de 2006.

André.

Thursday, June 01, 2006

Inveja

Queria uma liberdade inexplicável
Algo como Von Humboldt
Algo como Laplace
Esvaziar o ser
Adormecer
Existir
Sorrir

Aracati-Ce, 01 de junho de 2006.

André

Nirvana

Talvez a Liberdade seja uma utopia... Sim! Essa Liberdade: de ver mulheres nuas e beber [taças e mais taças de vinho.
E talvez esse ódio que sentimos nem exista... Sim! Talvez nem exista esse ódio pela
[prostituta que passa livremente pela calçada da igreja; esse ódio pelo homicida que
[assassinou alguém que desconhecemos, em circunstâncias totalmente desconhecidas.
O que é afinal essa coisa que queima e dá um nó garganta quando sentimos o cheiro de

[lavanda da prostituta que passa por nós na calçada da igreja; quando assistimos a prisão de
[um homicida pela tv?
Não vou responder. Chega de explicações, chega de especialistas, chega de dietas [milagrosas. Ficai, agora, com essa dúvida queimando e sufocando vossa garganta em lugar [do ódio que sentíeis, porque esse desespero de saber quem nós somos angustia, mas liberta.


Aracati-Ce., 01 de junho de 2006.

André da Costa Nogueira