Thursday, May 25, 2006

Monólogo de Darwin

A única lei que domina
Todo o desenvolvimento social
Não é outra doutrina
Senão a seleção natural

Quiseram incutir
Por séculos a Sociologia
Não dá mais para mentir
Pois Durkheimer mentia

A Religião, a Filosofia
Quis nos ensinar
Que nossa categoria
No topo está

No entanto consultando
Os processos naturais
Acabamos concordando
Que somos meros animais

Crie sistema ou ética
A humanidade terá
Sempre a mesma cinética
Que nos quadrúpedes há

E quem conquistar
Atingir essa verdade
Tranqüilize-se pois terá
Descoberto a felicidade.



André da Costa Nogueira

Aracati-Ce., 24 de maio de 2006.

Monday, May 22, 2006

Criança mimada

Imagino barulho de águas correndo
De pássaros cantando, de relva pisada.

Imagino um céu azul com sol frígido, com brisas suaves e flores em redor.
Imagino versos impossíveis, para esse dia impossível, o dia do meu amor,

Mas imagino... Imagino mares distantes sulcados por um barco que nos leva para longe, longe... Para o desconhecido, para o inimaginável... É lá onde quero te beijar.

Lá haverá regatos onde nos banharemos, não com essa mesma água de sempre, inexorável e transparente, porém com águas tão suaves como um sussurro de anjo.

Tudo isso imagino para ti, com a cal do meu pensamento, com o amor inexpugnável do meu coração e com a pressa de uma criança mimada.




Aracati-Ce., 03 de outubro de 2005.

André da Costa Nogueira

O Endereço da Felicidade

A felicidade, as mais das vezes, não a encontramos porque já a temos;
A felicidade, as mais das vezes, não a encontramos, a perdemos.
E assim vamos vivendo, esquecendo sempre o endereço desta senhorita, que tem residência [fixa.
E fumamos e bebemos; e rezamos e fornicamos, esperando ansiosos, a sensação da felicidade, [como se ela fosse euforia, orgasmo ou línguas estranhas,
quando, verdadeiramente
Ela não é o que sentimos,
É o que sobra depois que cessa tudo que a gente sente.

André
22 de maio de 2006.




Friday, May 19, 2006

Um ex-epicurista

Estou pronto para a Beleza.
Minha alma está dominada
Garanto que não se deixará
Vencer por nenhuma cilada.
O horizonte é largo, mas caminho.
Um dia, quando o Sol nascer,
Já serei mais forte a ponto de não chorar.
Trago em minhas mãos cicatrizes de outras vitórias.
Sou capaz;
Sou a vontade de Deus;
A mais sábia vontade que existe!
Já não preciso crer,
Sou Deus também.

Aracati-Ce., 22 de dezembro de 2005.
André


Longe
Hoje eu quero ficar longe de tudo...
Apagar da memória os faróis e as buzinas dos carros;
As palavras, os ponteiros do relógio, as orações mecânicas.
Meu pensamento do pensamento quer distância, hoje!
Quero somente sentir, como um cego, que de repente recobra a visão,
E fica espantado com a textura das próprias mãos.
Nunca mais ouvi aquele silêncio que não é todo silêncio mas pacifica.
Nunca mais ouvi minha alma me chamando como uma criança gritando numa caverna... Nunca mais me perdi: o calendário, a agenda, o despertador...
Hoje, paradoxalmente, eu quero a Incerteza,
A Incerteza fatídica dos mambembes, dos caixeiros viajantes, dos ciganos,
A Incerteza da Vida!
Quero queimar com minhas próprias mãos esses malditos códigos que transformaram a existência numa corrida fútil e previsível!
Abaixo a Vida Eterna, abaixo o Eterno Retorno, abaixo o Juízo Final!
Sou muito complexo para me deixar enredar por simples ninharias.
Aracati-Ce., 13 de março de 2006.
André
[Malu a você dedico estas estrofes, para que sejas forte e não te deixes enredar pela teia mesquinha dos que se acostumaram com o trivial, dos que vivem enfeitando o Desconhecido com qualidades e defeitos Conhecidos pensando que assim agindo terão desvendado o mistério da Vida]

Wednesday, May 17, 2006

A Noite

A noite segue...
[São palavras de um solitário]
[São minhas palavras!]
a noite segue...
..................................................................................................................................................................
desbravando alcovas,
flagrando salteadores...
desiludindo donzelas.
Com ela as lembranças também vão,
Se escorando nalguma estrela, buscando esconderijo... assim...
A noite segue...
Vultos se preparam,
Instrumentos se afinam... vozes altercam... mas nada... nada! Impede a noite...
Nada sufoca essa vontade, esse instante!
Mãos se tocam, olhos se chocam... um Novo Acordo Mundial é assinado; gritos se ouvem; [tramas são armadas:
[um novo golpe? um novo Concílio?
E a noite segue. Com suas últimas garrafas, suas últimas estrelas, seus últimos tiros...

O excomungado


Há muito não sinto o sabor do sumo das coisas;
Há dias não me questiono acerca da natureza de Deus...
E assim meus dias vão passando:
Entre uma aurora e um crepúsculo
Nenhum músculo da minha face se destende num sorriso;
Nenhuma palavra me inunda a boca...

Há anos procuro uma vereda que leve à larga estrada;
Hesitante não quero assumir meu caminho,
Invento caminhos – sim! Invento caminhos –
Para fugir ao sol que banha a larga estrada
E que pode mostrar-me a nu diante de todos.

... e permaneço assim, calado, como um sacerdote
que espera calmamente pela realização de um milagre;
como um sacerdote que crê em milagres!
Até quando essas mesmas horas me separarão da eternidade?
Até quando meu questionamento será um grito rouco e solitário?


Aracati-Ce., 19 de dezembro de 2005.

André.